Global Teacher Prize Portugal 2021

Filed in Eventos by on Julho 6, 2021 0 Comments

Fui convidada a concorrer ao Global Teacher Prize Portugal pelas “pequenas utopias” que cultivo: a Filosofia, o Cinema, a Educação.

Com exceção dos protagonistas e dos parceiros do projeto com quem construí cumplicidades ao longo de mais de uma década, a profundidade do meu trabalho, e dos professores Educadores, mantém-se sob uma misteriosa invisibilidade. Por isso, não estava à espera da desmesurada honra que experienciei ao integrar o grupo dos dez finalistas, quer dizer, com mais nove professores extraordinários, a saber: Bruno Gomes, Cristina Chau,  Elsa Mendanha, Fátima Pais, Nuno Duarte, Elsa Mota, Anabela Areias, Célia Prata, Helena Pires. Tem sido um desvelamento enriquecedor conhecê-los e privar com eles.

Espreitem os seus maravilhosos projetos no site do Global Teacher Prize e no facebook do concurso.

Assevero que tudo farei para (continuar)  enobrecer esta elevada distinção. Por agora, deixo o meu discurso, aquando da inesquecível e inenarrável cerimónia de premiação, na sede da Federação Portuguesa de Cineclubes:

“Boa tarde.

É um privilégio estar aqui. É uma surpresa estar neste palco.

É uma honra conhecer os projetos extraordinários dos meus colegas, também eles criadores de utopias.

O que devo dizer-vos?

Substituo a a pergunta: o que posso dizer-vos?

Que a Filosofia não é apenas uma formação académica, é inquietação, ação. Que pensar filosoficamente não é apenas um exercício da razão pura – utilizando a nomenclatura kantiana -,  desgarrado do corpo, dos ossos, dos afetos, dos sentires e das pequenas utopias, minhas, dos outros e da comunidade a que pertenço. Não sei bem se habito um espaço, um corpo, uma escola, uma sala de aula, uma comunidade ou se sou habitada por eles. Tal como os pensamentos que estão simultaneamente em nós e fora de nós. Pertencem-nos e não nos pertencem. Não são as pequenas utopias, os projetos, exoesqueletos das ideias que sobrevivem aos seus autores?

 O pensamento, tal como o eu que o consubstancia, é relacional, em dialética com os outros, enriquece-se e engrandece-se. Tenho a utopia de dedicar-me a apresentar a filosofia, e o cinema, sobretudo de animação, às crianças, aos mais novos, auxiliando-os no despertar do seu filosofar.

Creio que há nas imagens em movimento espaços e tempos, mentais, cromáticos, visuais, sonoros, afetivos que convocam a curiosidade e o espanto filosóficos.

Creio que todos possuem uma vocação filosófica,  e que só precisam de ser estimulados a descobrirem as suas perguntas filosóficas, aprenderem a escutá-las e a serem escutados. As crianças, os jovens , os adultos, os idosos, todos têm uma voz. Todos temos uma voz.

 Acredito na potência criadora da partilha intergeracional e que pensar o cinema, pensar e agir com o cinema, dentro e fora do filme, dentro e fora da escola, na comunidade, nas comunidades, nos permite percorrer um caminho plural, múltiplo, solidário, de aperfeiçoamento incessante.

Estão sempre a crescer-me utopias. Por exemplo, de uma escola que não tem apenas uma sala do futuro mas transforma intensa e ativamente o presente. Uma escola de todas as temporalidades. Porque o que somos não esquece o passado, nem antecipa apenas o futuro.

De exames que ao invés de avaliarem, se deixam agora ser avaliados, repensados.

De salas de aula dentro mas, sobretudo, de salas de aula fora, fora das escolas, sem ninguém estar enfileirado. De turmas concebidas como comunidades de investigação.

Sinto o pensamento deleuziano de que não há saberes isolados e fragmentados, não há conhecimentos disciplinares de primeira e segunda categorias; há cumplicidades rizomáticas.

Tenho a utopia de uma Educação verdadeiramente inclusiva. De alunos-filósofos e de professores aprendizes.

Acredito nos Professores que potenciam a criação dos alunos, criando; que estimulam a autonomia, praticando-a e que acolhem a Profissão-Educação enquanto vocação.

Tenho a utopia de que todas as escolas podem ser emancipadoras, transformadoras e humanizadoras.

Já perceberam que não segui qualquer protocolo.

Uma das virtudes da práxis filosófica é desordenar o “arrumadinho”, duvidar e desalojar o “certinho”, “dar ao pente funções de não pentear”, como escreveu o poeta Manoel de Barros.

Desinventar a Escola para a reinventar.

Por agora, findo esta intervenção, agradecendo aos protagonistas das “pequenas utopias”:

– Aos Alunos da Escola Sec. de Amarante e da Escola Básica n.º2 de Amarante.  A todos os demais alunos.

– Aos Professores de Escola Secundária de Amarante e da Escola Básica nº 2 de Amarante.  A todos os demais Professores.

– Às Direções da Escola Secundária de Amarante e da Escola Básica n.º2 de Amarante. A todas as Direções que escutam os sentires das suas comunidades.

– Ás Pessoas do Curso de Mestrado em Filosofia para Crianças da Universidade dos Açores que me desafiaram e desafiam a reinventar-me continuamente.

– Aos realizadores, festivais de cinema e parceiros das pequenas utopias  (Cineclube de Amarante, Biblioteca Escolar, Casa Museu de Vilar, Associação cultural Gatilho, Officina Noctua, Casa da Boavista – Residência Sénior, Casa de Animação do Porto, Associação para a criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto) e aos que não enunciei por me esquecer, não por desmerecimento.

Agradeço a disponibilidade e abertura da Câmara Municipal de Amarante, superiormente representada nesta cerimónia pela sua vice-presidente, Dra. Lucida Fonseca e pelo Sr. Vereador da Educação, Dr. António Ribeiro.

Agradeço ao berço dos Afetos e de todos os devires, à minha Família: ao meu filho Ricardo, aos meus irmãos, e, em particular a uma Rosa muito especial com 90 anos que me ensinou, através do exemplo, que as adversidades não resistem à Esperança, a todas as Esperanças.  Não será a Educação a Esperança em ação?

Finalmente, aos ilustres organizadores do Global Teacher Prize Portugal na figura do Presidente do júri, Sr. Professor Doutor Afonso Reis. Muito grata por fazer suas, nossas, todas as “pequenas utopias”.

Como escreveu Teixeira de Pascoaes: “As cousas são impossíveis possibilizados.”

18 de junho de 2021, Federação Portuguesa de Cineclubes

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