Prolegómenos

Filed in Home, Prolegómenos by on Dezembro 28, 2020 4 Comments

 

Nota marginal um

Era uma vez…que se transformaram em muitas vezes. Um olhar que se multiplicou. Um pensamento que se aprofundou.
Era uma vez um Clube de Cinema (CC) na Escola Secundária de Amarante (ESA) que fundei e onde comecei, há inúmeros anos, a exibir curtas metragens de vários géneros fílmicos.
Considerei sempre fascinante apresentar filmes aos alunos e estimulá-los a pensar. Fi-lo com alunos entusiastas, mas sem outros colegas.
Depois, surgiu o Plano Nacional de Cinema (PNC) onde tive/tenho das mais belas experiências criativas e transdisciplinares. Estávamos em 2014-15 e a primeira obra (re)descoberta deste projeto foi “História Trágica com Final Feliz”, Regina Pessoa, 2005.
Aprecio caminhos desconhecidos, aqueles que me levam a perder da rota habitual e me/nos desafiam a interrogar, a repensar, a apreciar e a criar outras mundividências, experiências.
Para além de convidar alunos e professores do ensino regular, convidei colegas e alunos quer do ensino profissional, quer do ensino especial da ESA para trabalharem no/com o PNC.

Acredito que o Cinema é a Arte inclusiva por excelência. Nela e através dela o caminho é plural, múltiplo. E o regresso nunca é solitário, é solidário.
Era uma vez um Cineclube, o Cineclube de Amarante (CA), com quem tenho uma relação de profunda intimidade. É uma paixão que se contradiz a si própria porque é imorredoura.
O Cineclube sempre me apoiou nas iniciativas dentro e fora da ESA. O seu papel e a sua importância no seio da comunidade amarantina é incomensurável. Através dele convidei inúmeros realizadores com os seus filmes, claro, e especialistas a serem descobertos pelos alunos e por muitos professores, como Abi Feijó, Regina Pessoa, Luís Filipe Costa, Manuel Mozos, João Monteiro, Joana Nogueira, Jorge Campos, Paulo Cunha.
Com o CA e em parceria com a Biblioteca Escolar fundei o Concurso Cineliterário com o objetivo de aproximar os alunos do Cinema e da Literatura.
Com o Clube de Cinema, com o PNC, com o CA convidei alunos do primeiro ciclo, nomeadamente da EB1 de Cepelos, acompanhados pela prof. Graça Pinheiro, para assistirem na ESA a sessões de cinema. O desafio consistia primeiramente em pensar, sentir e imaginar dentro do filme, com as imagens em movimento, para no momento posterior sair(em) do filme para a concretude da(s) sua(s) existência(s).

Nota marginal dois

Estando a minha formação de base ancorada na Filosofia, intui rapidamente a profundidade das inquietudes destes pequenos perguntadores. Pequenos Grandes filósofos. E isso fascinou-me. Sonhei, continuo a sonhar, em realizar a utopia: implementar um projeto de Filosofia com Cinema para Crianças no agrupamento de Escolas de Amarante e depois, contagiar outras escolas, outras cidades.


Fiz um pequeno programa, com conteúdos/filmografia objetivos, duração, etc. e propu-lo à diretora do Agrupamento de Escolas de Amarante, Dina Sanches, que o acolheu imediatamente. Este é o quarto ano que trabalho com os petizes da Escola Básica nº 2 de Amarante e o projeto já granjeou o reconhecimento e a atribuição do selo “Escola Amiga da Criança”.

Eu com a turma do 4º A.

Nas sessões, “fazemos perguntas imaginatórias”, diz-nos o Hugo e a Leonor acrescenta “Não sei bem como dizer, mas desperta-nos e faz-nos sentir mais livres e felizes.”
Não se poderia desejar mais, pois não?

Nota marginal três

Fiz várias formações de pequena duração em Filosofia para Crianças porque ter a licenciatura em Filosofia, o Mestrado em Filosofia da Educação, ou uma pós-graduação em Filosofia Moderna e Contemporânea não é condição suficiente para orientar um projeto deste tipo. É preciso investigar, praticar, e aperfeiçoar continuamente as sessões.
É difícil definir a essência da criança, talvez porque é de uma singularidade que resiste às categorizações do adulto. Talvez por isso, o adulto quanto mais cresce decresce, quer dizer, mais se vai distanciando (ao invés de se ir aproximando) de si, das crianças e das infâncias.
Por um feliz acaso, encontrei o caminho para o Mestrado em Filosofia para Crianças na Universidade dos Açores. Uma formação rigorosa e profunda que aconselho a quem tenha interesse nesta área. Estou na fase da redação da tese…insuportável, portanto.

Nota marginal quatro

Como já escrevi, a cumplicidade entre mim, a Filosofia, as Crianças e o Cinema, sobretudo o de Animação, deu-se paulatinamente, desembocando no projeto Filosofia com Cinema para Crianças (FcCpC), um grande ponto de interrogação que acolhe múltiplos pontos de interrogação…

Quantos pontos de interrogação detetam no meu logótipo?

Criado pela web designer Helena Soares [Universidade de Aveiro] que me conhece muito bem, com inspiração de Pedro Sousa Pereira, este belíssimo logótipo apresenta toda uma narrativa visual singular como uma máquina de sonhar (projetar) com olhinhos curiosos que nos surpreendem com uma menina de caracóis-interrogações cuja quietude cogitativa é inquietude. Talvez sonhe voar como as borboletas. Ou Talvez cada pergunta prefigure o início de novos voos, de outros caminhos. Talvez a abertura ou o voo constitua a essência de toda a criança-infância…ou a infância que deixou de ser a criança. Talvez.

Adoro-o.

Nota marginal cinco

Em 2017 redigi o que creio ser o primeiro programa de formação docente em Filosofia com Cinema para Crianças e Jovens em Portugal, acolhido pela APEFP. Adorei formar docentes em Almada, na Maia, em Braga,  mas dei-me conta que ações de doze horas são insuficientes e que o meu projeto requeria uma duração-fruição que possibilitasse a profundidade e, sobretudo, o acompanhamento dos professores nas suas sessões com os seus alunos. Um trabalho de orientação, criação e colaboração.


Daí que em 2019 tenha criado dois novos programas, duas novas formações docentes com 50 horas (25 presenciais e 25 de orientação e trabalho colaborativo e autónomo). Todas as formações estão acreditadas pelo Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua da Universidade do Minho e podem ser solicitadas ao Centro de Formação de Associação de Escolas de Amarante e Baião. Escrevam-me, se preferirem.
A autarquia do Seixal, por intermédio da Professora Bibliotecária, Cláudia Brites, no âmbito do projeto “Descobrir leituras para ler o mundo”, de Vânia Cruz, convidou-me para ministrar esta ação. Desde o belíssimo espaço, uma biblioteca-livro, aos formandos, às sessões, foi tudo especial.


E, claro, estando a viver, desde 1995, em terras de Pascoaes, de Amadeo e de Agustina, entendi que seria importante formar educadores de infância e professores do 1º ciclo das escolas nesta/desta área.


É deveras importante começar pelos níveis mais elementares, porventura também os mais cativantes, da escolaridade e, promover a construção do pensamento crítico e criativo do aluno através de obras fílmicas. Tenho que admitir que tive um grupo de formandas apaixonantes e apaixonadas por esta (nova) área e nem a pandemia impediu a conclusão da ação.  E se tiverem materiais interessantes, independentemente do espaço geográfico onde se encontram, enviem-mos porque terei o maior prazer em divulgá-los.

Nota marginal seis

Este blogue  há mais de um ano que é um nascituro. Entendi que apesar de (muito) incompleto  deveria apresentá-lo, pese embora ter pouquíssimo tempo para o ir alimentando. Não morrerá faminto, assevero.
Admito que tenho materiais bem nutritivos para encantar. Farei um esforço para os ir selecionando e divulgando com a clarividência de que enquanto a minha tese não for defendida ocultarei provisoriamente alguns deles.
É um blogue-viagem. Viagens. Cineviagens com pensamentos,  emoções,  filmes – maioritariamente de animação, mas alguns de ficção -, comigo e com todos os que me acompanham/rem.

Sejam bem-vindos!  Boas Cineviagens.

Elsa Cerqueira

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Notas marginalíssimas

Muito obrigada aos miúdos-crianças e crianças-miúdas (algumas graúdas) pela sua curiosidade e espanto; aos realizadores que me facultam/ram os seus filmes para as sessões, aos demais especialistas e parceiros deste projeto como a Casa Museu de Vilar, o NICA da Universidade dos Açores, a Casa de Animação, o Festival Prime the Animation, e, claro, à EB n.º 2 de Amarante, sem os quais o projeto não seria este projeto.

Entretanto,  espreitem a mãe e a avó do FcCpC.

Comments (4)

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  1. Maria Simas diz:

    Este blogue é uma janela para o mundo da Filosofia para/com Crianças a partir do cinema de animação, uma área pouco explorada no mundo da Educação. A Elsa, com todo o seu entusiasmo visível no seu projeto de Filosofia com Cinema para Crianças,recorda-me Vasco Granja. Esta sua paixão por esta manifestação artística conduzi-la-á, a uma constante movimentação de procura, aprofundamento, divulgação,porém regendo-se sempre por critérios de qualidade, inovação e criatividade, anotando possíveis abordagens a numerosas intervenções em prol da valorização desta arte. Um dia espero vê-la na RTP2 a apresentar e a comentar sessões de FcCpC.

  2. Muito Obrigada Maria por cineviajares comigo!

    Este blogue estará sempre à espera da tua visita e das tuas contribuições inovadoras na área da Filosofia para/com Crianças.
    E que maravilha de encontros, cumplicidades e descobertas criadas a partir do mestrado na universidade dos Açores.

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